PUBLICO
9.01.2009
CARLOS CIPRIANO
Em algumas linhas não decorrem quaisquer trabalhos, nem a Refer sabe quando reabrirão
Quase dez por cento da rede ferroviária nacional está sem comboios porque as linhas fecharam para obras, mas em algumas delas os trabalhos estão parados ou ainda nem começaram.
A situação, inédita em Portugal, tem várias causas, desde as intempéries de Dezembro passado que levaram ao fecho do ramal de Neves Corvo e de parte da linha do Douro até às indefinições em torno da linha do Tua motivadas pela barragem na foz do rio com o mesmo nome.
Mas há também troços - como entre Pampilhosa e Figueira da Foz - que encerraram há um ano e não sofreram ainda quaisquer intervenções, não havendo sequer um projecto para a sua reabilitação. Nas linhas do Corgo e do Tâmega, os únicos trabalhos realizados foram o levantamento dos carris e das travessas que transformaram as vias férreas em estradões, mas não se fizeram entretanto mais obras. A Refer diz que só em 2011 estas linhas poderão abrir, mas suspendeu entretanto os trabalhos para a construção de passagens desniveladas.
Na linha do Douro, a queda de uma rocha sobre a linha, perto da estação da Tua, levou ao encerramento da via férrea em Dezembro entre aquela estação e o Pocinho, numa zona onde não existe alternativa rodoviária (a mais fácil seria a fluvial). Mas a Refer suspendeu a velha prática ferroviária de tentar desimpedir as linhas com obras de urgência para repor a circulação e está há três semanas a fazer um diagnóstico que aponta, no mínimo, para seis meses de encerramento.
Também o ramal de Neves Corvo (o único afecto apenas ao serviço de mercadorias), que também foi vítima das chuvas fortes de Dezembro, não tem qualquer data para a reabertura, estando o minério a ser transportado em camiões.
Um troço que parece condenado a estar sempre em obras é o de Guarda-Covilhã. A Refer fechou-o em Março de 2009 e, para modernizar e electrificar aqueles 46 quilómetros de via única, vai demorar até 31 de Dezembro de 2012. No entretanto, sucedem-se meses em que não há quaisquer trabalhos no terreno ou se realizam apenas intervenções esporádicas.
A última linha a fechar para obras foi a da Lousã, mas esta, quando reabrir, ostentará o nome de Metro Mondego. Um investimento controverso de 300 milhões de euros para modernizar 35 quilómetros de via férrea. A reabertura está prevista para 2012.
Aos 276 quilómetros de linhas fechadas no país juntam-se em Maio deste ano mais 54 quilómetros, quando tiver início a modernização da linha entre Vendas Novas e Évora. Os trabalhos vão decorrer durante um ano e custarão 48,4 milhões de euros, mas, quando a linha reabrir, a CP não vai notar grandes diferenças, porque, apesar dos equipamentos instalados, a linha não estará electrificada antes de 2013.
Em Outubro de 2006, aquando das comemorações dos 150 anos do caminho-de-ferro em Portugal, José Sócrates apresentou as Orientações Estratégicas para o Sector Ferroviário com uma das grandes prioridades do seu Governo. Cinco anos depois, quase dez por cento da rede está encerrada, parte dela com destino incerto