Coincidência ou não, na mesma semana em que um documentário sobre a construção da Barragem e o consequente encerramento da Linha do Tua ganhou seis prémios em dois festivais nacionais, logo a EDP apareceu pela região a assinar protocolos e a prometer benefícios, financeiros e outros, para os transmontanos. Ficámos a saber que as iniciativas em curso na região resumem-se a um autocarro que pretende sensibilizar para “a utilização racional da electricidade” e na distribuição de cem mil euros, pelas instituições dos concelhos das “áreas de influência dos reforços de potência e construção de novas barragens”. Ora, segundo a EDP, serão privilegiados os dez concelhos de Alfândega, Alijó, Carrazeda, Macedo, Miranda, Mogadouro, Mirandela, Murça, Moncorvo e Vila Flor. É melhor que nada. Mas, se cem mil euros já é muito pouco para um objectivo tão ambicioso como “a melhoria da qualidade de vida, em particular de pessoas socialmente desfavorecidas, e a integração de comunidades em risco de exclusão social”, então que dizer, por exemplo, de cem mil a dividir por dez, se de cada concelho for aprovado um projecto? Quanto a projectos futuros, foram assinados três protocolos, envoltos em muito boas intenções, mas que só vendo é que poderemos avaliar se trarão algo de bom e verdadeiramente positivo para a região. Cheira um pouco a um “bodo aos pobres”. Não é com iniciativas desgarradas, como estas, que se compensa a região, pelo enorme contributo que tem dado ao país na produção da energia eléctrica. Mais de dois terços da energia hidroeléctrica é produzida na região de Trás-os-Montes e Alto Douro. Sugeria à EDP que, antes de qualquer outra medida para compensar a região, se encontrasse uma forma de a riqueza produzida em Trás-os-Montes e Alto Douro ser indexada aos respectivos concelhos, e não a Lisboa, a sede da Eléctrica Portuguesa, bem como que os impostos relativos a essa produção fossem pagos nos respectivos municípios. Corrigida esta injustiça, então, para além das iniciativas em execução e em fase de lançamento, que soam a pouco, desenhem-se outras iniciativas que efectivamente gerem emprego e promovam a fixação da população nas zonas despovoadas e envelhecidas do interior. Uma, em fase de lançamento, já vai nessa linha. Esperemos que não se fique pelo papel do protocolo, mas seja verdadeiramente eficaz na promoção do emprego na região. Trás-os-Montes e os transmontanos agradecem.